Os seres humanos pensam o tempo todo em o que fazer de suas vidas. Eu penso nisso sim, pois quem sou eu? Qual minha função no planeta? Talvez nem tenha determinada função ou nem tenha que dar certo. Afinal, quem é certo? Se o certo é o que a sociedade e mídia propõem eu estou totalmente errada. Não consigo ser igual a outro ser humano, a não ser por ter órgãos, membros e trabalho. Não sendo, assim, influenciável. O que me influencia é a arte de musicar e de
pensar, das quais posso criar e duvidar sobre a vida. Acredito no conhecimento, do qual apenas as mentes abertas podem adquirir. Ah, e o meu nome é Thaís, prazer!
















sábado, maio 28, 2011

Uma mulher, ou Vênus.

A Vênus de Urbino (Ticiano, 1580)

       Era deitada que costumava olhar como uma mulher sábia da vida e de sexo. Cuidava-se, a pele sempre macia, cabelos reluzentes e lábios vermelhos. Mas não muito. Não dispensava e dava gosto ao natural. O banho era algo necessário, mas gostava de esperar. Assim, podia ficar nua.

       Podia ser um anjo ou podia ser a mais infame das mulheres. Uma mistura de inocência com maturidade sexual. Nua tinha autonomia que muitas mulheres desejavam ter. Vênus e assumia as necessidades corporais sem culpa ou medo do pecado. Autora desuas ações, fazia o que pensava. Pensava e fazia. Existia por si mesma. Mas às vezes preferia não ser, apenas se entregar.

       Ao entardecer, deitada na cama sobre um lençol já não tão novo, compreendido de calor humano, pedia para ser pintada. O retrato era a auto-afirmação da existência. Usava apenas brincos, uma pulseira e algo que evitava que os cabelos escondesse o rosto.

       Além da baixa incidência do sol preservava a pele clara. As curvas revelavam bela silhueta feminina. De fortes olhares, amores, desejos e percepções. Era mulher.

Thaís Nascimento.

terça-feira, maio 10, 2011

NUNCA MAIS

       À noite, quando lia, Hans pensava nas vagas ciências ancestrais. Os livros tinham palavras tortas, teorias insuficientes. Mal cabia algo na cabeça. Olhava as paredes cheias de quadros, desenhos e frases filosóficas. Não sentia mais nada a não ser a pintura do corpo de Lívia cada vez menos real, cada vez mais vivo, cada vez mais sombrio. Os olhos de Hans fechavam. Se entregava à inconsciência, interrompida pelo som de alguém na porta.

       Imaginava Lívia à meia-noite com vinho e intenções amorosas. Ou talvez, queria companhia amigável, falar de assuntos que interessavam a ambos. Hans não sabia. Checava as aberturas da casa e só ouvia vento. Frio, o vento e nada mais. Grave, o rugido do vento causava-lhe angústia, lembrava Lívia. A teria alguma vez mais? Quando agudinho, o vento ensurdecia-o. Batiam e batiam à janela, Hans já engolia seco. Abriu a vidraça, entrou um corvo. Sobre Hans, olhares fatais. Sobre o corvo, curiosidade. Pousou na janela do quarto em que voara. Hans buscava significado da ave preta à noite das amarguras amorosas. Perguntou o nome.

       -Nunca mais. – dizia o corvo.

       Vozes usuais, o que sabia dizer e haviam ensinado, pensava Hans. Únicas duas palavras.

       -Que queria comigo? – dizia.

       “Nunca mais”, ouvia.

       Ambos os seres, fracos e mortais, almas entristecidas. Demônio, diabo, trazido pela tempestade. Cor do luto, abandono, sentia Hans. Lívia voltaria? “Nunca mais”, agonia.

       Ofegava. O ar, pesado, insuficiente. Tentava apagar a pintura da parede. Água, outras cores em cima, socos. Nada tirava a sede, nada apagava.

       - Vá, vá embora! – dizia Hans ao corvo e à pintura.

       “Nunca mais”.

Thaís Nascimento.