Cinco e quarenta da tarde, acordei antes da hora, o relógio despertaria as seis em ponto. Acordei com um sentimento estranho, incomum, apartado, com falta de ar. Ele costumava chegar as cinco horas, mas não havia nenhum sinal da chegada. Estava um silêncio intenso, tudo solitário e obscuro. Meu corpo por dentro estava vago. Um choque levei quando vi Théo. O olhar abatido, rosto machucado, a roupa suja e aspecto sofrido, Estava com medo e atenta a qualquer passo de qualquer pessoa a todo momento. Parecia um trauma, uma paranóia. Logo percebi que algo havia acontecido e meus pressentimentos não haviam falhado. Descreveu-me um homem, negro, de uns quarenta e sete anos, com calças amarelo escuro, uma camisa grafite e com um sapato simples. Um homem que ele já viu mais de duas vezes. Parecia inofensivo, calmo, disperso. Estavam na parada, o homem fumava um cigarro de palha e, ao subir no ônibus, ele sentou dois bancos atrás. Ao descerem, caminhando até uma escura esquina, pouco movimentada e com muitas árvores, ele o empurrou e pegou todo seu dinheiro lhe dando socos em seu rosto. Ficou mais apavorado ainda, e eu também, quando me disse que o homem disse que voltaria. Fiquei assustada, sentava um corpo no sofá tão acabado e com um olhar assustado, com medo, que destroçava meu coração e me deixara com medo de que sua segurança estaria prejudicada.
Me vesti e saí. Mesmo não querendo fui para a parada mais próxima, pegar um ônibus em direção aos meus estudos. Caminhava devagar, pensando no que havia acontecido e como eu senti isso antes mesmo de me contar. Rompeu meu sono, me agoniou, senti-me mal. Veio o ônibus, subi, todos os bancos estavam ocupados e haviam três pessoas em pé. Fui até o fundo. Na parada seguinte quatro pessoas desceram e sentei num banco que fica pro corredor. Fechei os olhos, tentei dormir e relaxar, não havia descançado quase. O ônibus parou, subiram pessoas e desceram pessoas. Quando abri os olhos estava em minha frente, quase ao meu lado, um homem, negro, com calças amarelo escuro, camisa branca desta vez, com olhar fixo em mim, com uma carteira de cigarros na mão e uma aparência de um homem de mais de quarenta anos. Gelei, arregalei meus olhos, seus olhos eram fixados em mim e chegava cada vez mais perto. Quando dei por mim estava suando. Sentou do outro lado do ônibus e ficava na minha paralela. Tinha algo negativo no ambiente, senti me mal, com falta de ar, igual de quando acordei. Perguntou-me sobre a parada antes do posto de gasolina. Era a minha, a do colegial. Nem respondi, fiquei aflita, achei uma perseguição e apenas lembrei de suas palavras, de quando me contou que ele dizia que voltaria. Levantei me rápido, apertei o botão e desci, outras pessoas desceram comigo, incluindo ele, o homem negro. Não sabia o que eu fazia, apenas caminhava rápido sem direção alguma. Estava me aproximando da esquina quando vi meu ônibus do outro lado indo para casa. Pensei em pegar, mas não havia como, não consegui atravessar. Só vi o tal homem subindo nele. Fiquei nervosa, ele estava indo para lá, o que eu iria fazer? Ele está sozinho lá e o homem disse que voltaria. Não esperei, corri para casa, aflita, sem pensar em mais nada, apenas pensando em andar o mais rápido possível. Eu só queria estar com ele, só queria o ver bem, o meu amor. Depois de vinte minutos, cheguei. Abri o portão, rapidamente e, entrei. Não o encontrava ali, na sala que havia ficado mais escura por causa da hora e do clima que estava de aflição. Meu coração batia forte, desparava. Escutava vozes, ameaças e, eventualmente, elevações nessas vozes. Olhei por tudo e não o achei. Fui até a outra sala. A televisão estava ligada e transmitindo essas vozes. Olhei para o sofá e finalmente ali estava. Dormindo. Cansado e não exercia nenhum movimento. Fiquei preocupada, deitei-me ao seu lado, coloquei meus braços sobre os dele. O beijei. Nisso, virou seu rosto para mim. Meu coração continuava a bater forte, mas abri um sorriso e sua segurança e o fato de estar ao meu lado e bem, me deixou tranquila e aliviada.
não esqueça do que queres esquecer, mude o que te faz sofrer.
Thaís Nascimento.