Estava claro demais, os olhos doeram de tanta luz. Pela primeira vez abriu a janela sem ver escuridão. Como nos filmes. Antes em preto e branco, a partir daquele dia, Hans viu o mundo com cores.
O ambiente estava diferente das últimas vezes: as ruas estavam poluídas, casas caindo de reformadas, cachorros solitários, flores secas, pessoas entediadas. Apenas as ruas, casas, cachorros, flores e pessoas (que ali moravam) eram as mesmas.
Hans observou um mundo que fugia das leis sociais. As crianças andavam com garrafas de bebida. Os adolescentes trabalhavam e tinham filhos. Os adultos fumavam três maços de cigarro ao dia, depressivos pela rotina. Os idosos eram crianças recém nascidas, falavam pouco.
Aos seus olhos, tudo era conflitos. Bombas eram jogadas, ideias não se batiam. O amor estava ausente. Ocorrera um terremoto! O espaço mudou.
Hans, 17 anos, não se sentia humano. Não se adequava em nenhuma idade, sentia não viver no tempo. "Agora tudo está claro", pensava. Antes o espaço não mudou. Apenas as pessoas mudavam. Quando o espaço mudou, as pessoas se transformaram de acordo com o espaço - o tempo maior. Ironia. Hans levantou a cabeça e fechou a janela, não toda, a curiosidade o fazia deixar uma frestinha aberta.
Thaís Nascimento.