Os seres humanos pensam o tempo todo em o que fazer de suas vidas. Eu penso nisso sim, pois quem sou eu? Qual minha função no planeta? Talvez nem tenha determinada função ou nem tenha que dar certo. Afinal, quem é certo? Se o certo é o que a sociedade e mídia propõem eu estou totalmente errada. Não consigo ser igual a outro ser humano, a não ser por ter órgãos, membros e trabalho. Não sendo, assim, influenciável. O que me influencia é a arte de musicar e de
pensar, das quais posso criar e duvidar sobre a vida. Acredito no conhecimento, do qual apenas as mentes abertas podem adquirir. Ah, e o meu nome é Thaís, prazer!
















domingo, abril 22, 2012

Sarau no Instituto de Artes - UFRGS

Canción de Cuna e Un dia de Noviembre, Léo Brouwer
Mazurka-Chôro, Heitor Villa-Lobos.

Thaís Nascimento (eu), violonista.

sábado, junho 11, 2011

Filosofia dos Sentidos.

Desconceituo meus sentidos

Ouço com outros olhos

Vejo com novos ouvidos

Cheiro com a língua

Sinto com o nariz

Descontento meus olhos

Desfaço-me da idealização

Duvido da audição

Ouço com outros olhos

Desvelo meus ouvidos

Desconstruo a convicção

[desviro de convicta]

Discirno a visão

[distingo, avalio]

Vejo com novos ouvidos

Desfecho os gostos

[abro para novos gostos]

Despeito com os fatos

[ressentimento, descontentação]

Desenvolvo o olfato

[desenvolvo, conheço cheiros]

Cheiro com a língua

Descubro a essência

Descristalizo as opiniões

[mudo]

Diversifico as sensações

Sinto com o nariz.
 
 
Thaís Nascimento.

sábado, maio 28, 2011

Uma mulher, ou Vênus.

A Vênus de Urbino (Ticiano, 1580)

       Era deitada que costumava olhar como uma mulher sábia da vida e de sexo. Cuidava-se, a pele sempre macia, cabelos reluzentes e lábios vermelhos. Mas não muito. Não dispensava e dava gosto ao natural. O banho era algo necessário, mas gostava de esperar. Assim, podia ficar nua.

       Podia ser um anjo ou podia ser a mais infame das mulheres. Uma mistura de inocência com maturidade sexual. Nua tinha autonomia que muitas mulheres desejavam ter. Vênus e assumia as necessidades corporais sem culpa ou medo do pecado. Autora desuas ações, fazia o que pensava. Pensava e fazia. Existia por si mesma. Mas às vezes preferia não ser, apenas se entregar.

       Ao entardecer, deitada na cama sobre um lençol já não tão novo, compreendido de calor humano, pedia para ser pintada. O retrato era a auto-afirmação da existência. Usava apenas brincos, uma pulseira e algo que evitava que os cabelos escondesse o rosto.

       Além da baixa incidência do sol preservava a pele clara. As curvas revelavam bela silhueta feminina. De fortes olhares, amores, desejos e percepções. Era mulher.

Thaís Nascimento.

terça-feira, maio 10, 2011

NUNCA MAIS

       À noite, quando lia, Hans pensava nas vagas ciências ancestrais. Os livros tinham palavras tortas, teorias insuficientes. Mal cabia algo na cabeça. Olhava as paredes cheias de quadros, desenhos e frases filosóficas. Não sentia mais nada a não ser a pintura do corpo de Lívia cada vez menos real, cada vez mais vivo, cada vez mais sombrio. Os olhos de Hans fechavam. Se entregava à inconsciência, interrompida pelo som de alguém na porta.

       Imaginava Lívia à meia-noite com vinho e intenções amorosas. Ou talvez, queria companhia amigável, falar de assuntos que interessavam a ambos. Hans não sabia. Checava as aberturas da casa e só ouvia vento. Frio, o vento e nada mais. Grave, o rugido do vento causava-lhe angústia, lembrava Lívia. A teria alguma vez mais? Quando agudinho, o vento ensurdecia-o. Batiam e batiam à janela, Hans já engolia seco. Abriu a vidraça, entrou um corvo. Sobre Hans, olhares fatais. Sobre o corvo, curiosidade. Pousou na janela do quarto em que voara. Hans buscava significado da ave preta à noite das amarguras amorosas. Perguntou o nome.

       -Nunca mais. – dizia o corvo.

       Vozes usuais, o que sabia dizer e haviam ensinado, pensava Hans. Únicas duas palavras.

       -Que queria comigo? – dizia.

       “Nunca mais”, ouvia.

       Ambos os seres, fracos e mortais, almas entristecidas. Demônio, diabo, trazido pela tempestade. Cor do luto, abandono, sentia Hans. Lívia voltaria? “Nunca mais”, agonia.

       Ofegava. O ar, pesado, insuficiente. Tentava apagar a pintura da parede. Água, outras cores em cima, socos. Nada tirava a sede, nada apagava.

       - Vá, vá embora! – dizia Hans ao corvo e à pintura.

       “Nunca mais”.

Thaís Nascimento.



quarta-feira, abril 06, 2011

Objeto e representação linguística

"Isso não é um cachimbo" - René Magritte.


      O quadro de Magritte, da imagem de um cachimbo, apresenta a legenda: Isso não é um cachimbo. Que argumentos o autor teve para dizer que um cachimbo não é um cachimbo? Ou, que interpretações temos ao ver uma obra e a frase? Cabe a nós uma análise do objeto, da palavra e das suas relações.
      O ser humano, com a escrita, comunica, escreve o que pronuncia e nomeia os objetos para diferenciá-los. Não há relação direta da palavra e do objeto a qual se designa. O autor quis diferenciar a palavra cachimbo da sua representação, como objeto cachimbo. Assim como na Gramática, som é diferente de letra ou letras que ele representa.
      Em contrapartida, a palavra pode dar significado àquilo que está relacionada. Quando chamamos um objeto redondo de bola, estamos comparando-o à forma redonda de uma bola. Outro exemplo é quando dizemos que somos nossos nomes. Somos uma palavra ou a utilizamos como diferenciação? O sentido do nome de uma pessoa também pode ter uma relação cultural e afetiva dos pais que o escolheram.
      Percebemos que a linguagem nomeia e comunica aquilo que através dela possui diferenciação. Estranhamos quando se diz que um objeto não é um objeto. Mas, de fato, o objeto não é a palavra e sim, a matéria em si.

Thaís Nascimento.

René François Ghislain Magritte (1898-1967), artista surrealista. Se interessou por vanguarda, linguagem poética e pela pintura metafísica de Giorgio de Chirico. Utilizou criações ilusionistas.

sexta-feira, março 04, 2011

O FILÓSOFO

Fases, ensejos,

Tempos e contratempos,


O filósofo não sabe:
Vive.

Arte, mitos,
Abstração e imaginação.

O filósofo não concretiza,
Pensa.

Curiosidade, desconfiança,
Atitude e busca,

O filósofo não chega,
Aproxima.

Olhares,
Indagações,
Despertares,
Meditações,

Instinto!
E o filósofo não precisa de mais nada.

Thaís Nascimento. (01.03.11)

terça-feira, janeiro 04, 2011

Luna, lua.

     Luna estava apaixonada, o coração pulsava ao ver a lua cheia no céu. Quando a lua minguava, escondia-se entre as nuvens. Luna adorava essa timidez. Vergonha igual do jasmim, que só nos permitia cheirar seu aroma forte e delicioso de vez em quando, naquelas noites da lua cheia.

     A lua chamava todas as noites os olhos de Luna. Vestida de branco, ia à praia para vê-la. Sentava nas dunas. A lua, audaciosa e destacada pelo céu azul escuro, brilhava mais do que todas as estrelas. Jimmy, deitado na grama atrás das dunas daquela praia, sonhava dar um beijo na lua.

     Amo a Luna, lua. Adoro vê-la escondida entre as dunas, nuvens. Vestida de branco, realça o brilho dos olhos, estrelas. Só queria estar entre as dunas, nuvens com a Luna, lua. Pensava Jimmy.

     A brisa nas dunas atraiu Jimmy às ondas. Luna molhava os pés no mar. Caminhavam em direções diferentes na beira da água. Olhavam a lua, olhavam um para o outro, não por muito tempo. A lua olhava para eles. Banharam-se, depois conversaram sentados naquela areia macia, até o amanhecer, na frente de um mar mais doce.

     O vento trouxe as ondas mais altas e belas do mar. Jimmy pegou na mão de Luna, tremia. Luna não sabia se era frio. Sorriu, depois beijou-o. Desse jeito, diversas vezes.

     - Vamos casar? Eu, você e a lua? – disse Jimmy.

     - Só amanhã a noite. – disse Luna.

     Os minutos da madrugada voaram. Os do dia foram horas.

     Jimmy e Luna encontraram-se novamente à noite. As estrelas brilhavam nos cantinhos do céu sem as nuvens. A lua nunca mais apareceu.

Thaís Nascimento.